30 de julho de 2009

As Mineiras


O sotaque das mineiras deveria ser ilegal, imoral ou engordar.Porque, se tudo que é bom tem um desses horríveis efeitos colaterais,como é que o falar, sensual e lindo ficou de fora? Porque, Deus, que sotaque!Mineira devia nascer com tarja preta avisando: ouvi-la faz mal à saúde. Se uma mineira, falando mansinho, me pedir para assinar um contrato doando tudo que tenho, sou capaz de perguntar: só isso? Assino achando que ela me faz um favor. Eu sou suspeitíssimo. Confesso: esse sotaque me desarma.Certa vez quase propus casamento a uma menina que me ligou por engano, só pelo sotaque. Os mineiros têm um ódio mortal das palavras completas.Preferem, sabe-se lá por que, abandoná-las no meio do caminho (não dizem: pode parar, dizem:'pó parar').Os não-mineiros, ignorantes nas coisas de Minas, supõem, precipitada e levianamente, que os mineiros vivem - lingüisticamente falando - apenas de uais, trense sôs. Digo-lhes que não. Mineiro não fala que o sujeito é competente em tal ou qual atividade. Fala que ele é bom de serviço. Pouco importa que seja um juiz de direito, um jogador de futebol ou um ator de filme pornô. Se der no couro - metaforicamente falando, é claro - ele é bom de serviço. Mineiras não usam o famosíssimo tudo bem. Sempre que duas mineiras se encontram, uma delas há de perguntar pra outra: 'cê tá boa?' Para mim, isso é pleonasmo. Perguntar para uma mineira se ela tá boa é desnecessário. Vamos supor que você esteja tendo um caso com uma mulher casada. Um amigo seu, se for mineiro, vai chegar e dizer: Mexe com isso não, sô (leia-se: sai dessa,é fria, etc). O verbo 'mexer', para os mineiros, tem os mais amplos significados. Quer dizer, por exemplo, trabalhar. Se lhe perguntarem com que você mexe, não fique ofendido. Querem saber o seu ofício.Que os mineiros não acabam as palavras, todo mundo sabe. É um tal de 'bonitim', 'fechadim', e por aí vai. Já me acostumei a ouvir: 'E aí, vão?'.Traduzo: 'E aí, vamos?'. Não caia na besteira de esperar um 'vamos' completo de uma mineira. Não ouvirá nunca.Eu preciso avisar à língua portuguesa que gosto muito dela, mas prefiro, com todo respeito, a mineira. Nada pessoal. Aqui certas regras não entram.São barradas pelas montanhas. No supermercado, não faz muitas compras, ele compra'um tanto de coisa'. O supermercado não estará lotado, ele terá 'um tanto de gente'. Se a fila do caixa não anda, é porque está 'agarrando' lá na frente. Entendeu? Agarrar é agarrar, ora! Se, saindo do supermercado, a mineirinha vir um mendigo e ficar com pena, suspirará: Ai, gente, que dó. É provável que a essa altura o leitor já esteja apaixonado pelas mineiras. Não vem caçar confusão pro meu lado. Porque, devo dizer, mineiro não arruma briga, mineiro 'caça confusão'. Se você quiser dizer que tal sujeito é arruaceiro, é melhor falar, para se fazer entendido, que ele 'vive caçando confusão'. Leitor, você é meio burrinho ou é impressão? A propósito, um mineiro não pergunta: 'você não vai?'. A pergunta, mineiramente falando, seria: 'cê não anima de ir'? Tão simples. O resto do Brasil complica tudo.Tem tantos outros... O plural, então, é um problema. Um lindo problema, mas um problema. Sou, não nego, suspeito. Minha inclinação é para perdoar, com louvor, os deslizes vocabulares das mineiras. Aliás, deslizes nada. Só porque aqui a língua é outra, não quer dizer que a oficial esteja com a razão. Se você, em conversa, falar:- Ah, fui lá comprar umas coisas... Que' s coisa?- ela retrucará. O plural dá um pulo. Sai das coisas e vai para o que. A conjugação dos verbos tem lá seus mistérios em Minas...Ontem, uma senhora docemente me consolou: 'prôcupa não, bobo!'. E meus ouvidos, já acostumados às ingênuas conjugações mineiras, nem se espantam.Talvez se espantassem se ouvissem um: 'não se preocupe', ou algo assim.A fórmula mineira é sintética. E diz tudo. Até o 'tchau' em Minas é personalizado. Ninguém diz tchau pura e simplesmente. Aqui se diz: 'tchau procê', 'tchau procês'. É útil deixar claro o destinatário do tchau.

(Carlos Drummond de Andrade)

29 de julho de 2009

Loulis continua lendo Pedro Bial: Escolhas!


Escolhas de uma vida A certa altura do filme Crimes e Pecados, o personagem interpretado por Woody Allen diz: "Nós somos a soma das nossas decisões".Essa frase acomodou-se na minha massa cinzenta e de lá nunca mais saiu. Compartilho do ceticismo de Allen: a gente é o que a gente escolhe ser, o destino pouco tem a ver com isso.Desde pequenos aprendemos que, ao fazer uma opção,estamos descartando outra, e de opção em opção vamos tecendo essa teia que se convencionou chamar "minha vida". Não é tarefa fácil. No momento em que se escolhe ser médico, se está abrindo mão de ser piloto de avião. Ao optar pela vida de atriz, será quase impossível conciliar com a arquitetura. No amor, a mesma coisa: namora-se um, outro, e mais outro, num excitante vaivém de romances. Até que chega um momento em que é preciso decidir entre passar o resto da vida sem compromisso formal com alguém, apenas vivenciando amores e deixando-os ir embora quando se findam, ou casar, e através do casamento fundar uma microempresa, com direito a casa própria, orçamento doméstico e responsabilidades.As duas opções têm seus prós e contras: viver sem laços e viver com laços...Escolha: beber até cair ou virar vegetariano e budista? Todas as alternativas são válidas, mas há um preço a pagar por elas.Quem dera pudéssemos ser uma pessoa diferente a cada 6 meses, ser casados de segunda a sexta e solteiros nos finais de semana, ter filhos quando se está bem-disposto e não tê-los quando se está cansado. Por isso é tão importante o auto conhecimento. Por isso é necessário ler muito, ouvir os outros, estagiar em várias tribos, prestar atenção ao que acontece em volta e não cultivar preconceitos. Nossas escolhas não podem ser apenas intuitivas, elas têm que refletir o que a gente é. Lógico que se deve reavaliar decisões e trocar de caminho: Ninguém é o mesmo para sempre.Mas que essas mudanças de rota venham para acrescentar, e não para anular a vivência do caminho anteriormente percorrido. A estrada é longa e o tempo é curto.Não deixe de fazer nada que queira, mas tenha responsabilidade e maturidade para arcar com as conseqüências destas ações.Lembrem-se: suas escolhas têm 50% de chance de darem certo, mas também 50% de chance de darem errado. A escolha é sua...!


Pedro Bial

28 de julho de 2009

Sobre ele..


Hoje me sinto a vontade pra voltar a escrever. Posso dizer que me sinto bem pra tentar entender o destino e talvez bem pra parar de acreditar nele. Perto daqui bem longe vejo o tempo parar. Esse era o meu desejo há poucos dias. Tinha pensamentos distantes, um fio, esperança, vontade, sorrisos, o coração bateu. “Se o destino diz que você é um perdedor, pregue uma boa peça nele.” O Destino num deveria dizer nada! Fotos, placas, pessoas e nomes. Hoje tudo parece não fazer mais sentido. Vejo alguém na rua que me faz lembrar, já penso em esquecer. Confesso: NÃO QUERO, PRECISO (nos dois sentidos). É simplesmente horrível pensar na velocidade como tudo aconteceu, e de uma hora pra outra como tudo mudou. Ter que viver um dia sem saber como você está, onde você está, e por que não está, assim sem esperar por isso foi cruel. Começou no início, mas terminou sem final, será que é tão difícil assim pra nós? “Você bem quis entender/ Mas eu não soube explicar/ Nem mesmo eu sei dizer/ Não gosto nem de lembrar” Eu quis entender, você quis entender, não soubemos explicar, e não conseguimos esconder. O medo foi maior que a vontade, é fato! Hoje tudo fica claro. Foi um furacão que abalou as estruturas rígidas e secas, são pedaços que sobraram que precisam ser reconstruídos. Ahhh os homens quem os entende. O que seria da vida sem as surpresas, e se tudo fosse bom! Ainda me falta vontade pra acreditar. Talvez eu não acredite tão cedo. Estar com você é tão disfuncional. Eu realmente não devia sentir sua falta, mas eu não consigo evitar. Já pedi e implorei pras pessoas que gostam de mim; isso só depende de mim. Às vezes me sinto aquela amiga chata, que precisa ser vigiada. Não que eu possa fazer uma loucura (embora tudo que eu escreva pareça melancólico, nãoo eu não vou fazer nada porque não merece que eu faça), mas eu me sinto um pesinho, mesmo que leve, que meus amigos andam tendo (ou tentando) que me levar pra que eu me distraia e pense um pouco menos nisso. Estou triste, sei que o melhor que eu posso fazer é me livrar dessa e começar a sorrir de novo. Não garanto que logo por que gosto muito e aprendi, não entendo! Mas passa, sempre passa. E é assim que acontecem aquelas famosas lições de aprendizado e amadurecimento. O resto a gente espera...


27 de julho de 2009

Jason Mraz - Datails in the Fabric

Se acalme
Respire profundamente
E se vista ao invés
De correr por aí
Pulando todos os fios dizendo
Acabando com você
Se é uma parte quebrada, reponha-a
Se é um braço quebrado, então engesse-o
Se é um coração quebrado partido, então conserte-o
E se segure
Saiba seu nome
E vá no seu próprio caminho
Se segure
Saiba seu nome
E siga seu caminho
E tudo ficará bem
Tudo ficará bem
Aguente firme
A ajuda está a caminho
Permaneça forte
Eu estou fazendo de tudo
Se segure
Saiba seu nome
E siga seu próprio caminho
Se segure
Saiba seu nome
E siga seu próprio caminho
E tudo, tudo ficará bem
Tudo
São os detalhes em tecidos
São as coisas que te causam pânico
São seus pensamentos resultados de uma união estática??
São as coisas que te fazem explodir
Droga, sem motivos, vá em frente e grite
Se você está chocado é só um erro
De faltas de manufatura
Sim, tudo ficará bem
Tudo em tempo de um modo geral
Tudo
Se segure
Saiba seu nome
E siga seu próprio caminho
Os detalhes estão no tecido? (segure-se, saiba seu nome)
São as coisas que te causam pânico (siga o seu caminho)
São seus pensamentos resultados de uma união estática?
Os detalhes estão no tecido? (segure-se, saiba seu nome)
São as coisas que te causam pânico (siga o seu caminho)
Será a máquina de costura da natureza?
São as coisas que te fazem explodir (segure-se, saiba o seu nome)
Não há motivo para sair e gritar
Se você está chocado é apenas culpa (siga seu caminho)
Da má fabricação
Tudo vai ficar bem
Tudo sem tempo algum os corações se abraçarão

25 de julho de 2009

Morrer é ridículo.


Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário,
tem planos pra semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório,
colocar gasolina no carro e no meio da tarde morre. Como assim? E os e-mails
que você ainda não abriu, o livro que ficou pela metade, o telefonema que
você prometeu dar à tardinha para um cliente? Não sei de onde tiraram esta
idéia: morrer. A troco?

Você passou mais de 10 anos da sua vida dentro de um colégio estudando
fórmulas químicas que não serviriam pra nada, mas se manteve lá, fez as
provas, foi em frente. Praticou muita educação física, quase perdeu o
fôlego, mas não desistiu. Passou madrugadas sem dormir para estudar pro
vestibular mesmo sem ter certeza do que gostaria de fazer da vida, cheio de
dúvidas quanto à profissão escolhida, mas era hora de decidir, então
decidiu, e mais uma vez foi em frente...

De uma hora pra outra, tudo isso termina numa colisão na freeway, numa
artéria entupida, num disparo feito por um delinqüente que gostou do seu
tênis. Qual é? Morrer é um chiste.

Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter
dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua
música preferida. Você deixou em casa suas camisas penduradas nos cabides,
sua toalha úmida no varal, e penduradas também algumas contas. Os outros vão
ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas, a apagar as
pistas que você deixou durante uma vida inteira. Logo você, que sempre
dizia: das minhas coisas cuido eu. Que pegadinha macabra: você sai sem tomar
café e talvez não almoce, caminha por uma rua e talvez não chegue na próxima
esquina, começa a falar e talvez não conclua o que pretende dizer.

Não faz exames médicos, fuma dois maços por dia, bebe de tudo, curte
costelas gordas e mulheres magras e morre num sábado de manhã. Se faz
check-up regulares e não tem vícios, morre do mesmo jeito. Isso é para ser
levado a sério?

Tendo mais de cem anos de idade, vá lá, o sono eterno pode ser bem-vindo. Já
não há mesmo muito a fazer, o corpo não acompanha a mente, e a mente também
já rateia, sem falar que há quase nada guardado nas gavetas. Ok, hora de
descansar em paz. Mas antes de viver tudo, antes de viver até a rapa? Não se
faz. Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas.
Morrer é um exagero. E, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das
piadas. Só que esta não tem graça.

Por isso viva tudo que há para viver. Não se apegue as coisas pequenas e
inúteis da Vida... Perdoe....sempre!!!

Pedro Bial